quarta-feira, junho 22

Encham as ruas de poemas tristes,
E toquem as músicas guardadas para horas escuras.
O Nada chegou.

A sombra da tua ausência
Como uma evidência da crueldade,
Nos olhos baixos, nas palavras nuas,
Nas lágrimas de uma saudade nunca breve.
A tua falta em tudo
Gritando a revolta muda
De não haver sentido.

Façam das praças suspiros
E dos fontanários brotem lágrimas.
O Nada chegou.

O tempo aumenta o medo
O medo de que não nasça mais o sol
Sem o teu sorriso para o reflectir,
De que o vento não mais sopre
Sem o teu cabelo para desalinhar,
De que não haja mais forças
Sem o teu olhar sobre nós.

A morte entra nas nossas vidas
Como uma estranha que conhece a casa.

Cancelem todas as palavras leves
E parem o sol em crepúsculo
O Nada chegou.

Mas existe dentro
Da distância impossível da tua ausência
Dentro de dentro da dor de não estares
A memória
E vibra em nós
O teu sorriso o teu cabelo
E olhar meigo que não acaba
Como a promessa de que haverá
Sol e vento e acima de tudo forças
Porque o Nada que chegou
Não apaga tudo
O que és em nós.

Barnabé Santiago

01\06\2005