quarta-feira, março 15

a tua mão na minha

e as folhas a cair, num outono

arrepiado cedendo aos caprichos do Inverno.

o vento a descer a rua conosco

a aconchegar-nos os cachecois

e a pincelar de azul as nossas faces rosas

não há frio que penetre o teu olhar sorrindo.

vou-te falando de todas as ideias que me fogem

de todos os instantes de letras sem lapis

de uma memória prometida e falhada

sufocada pelos dias e as caras

e o sorriso no teu olhar,

enquanto compensamos o declive com os corpos

traz a primavera para dentro de mim.

vais-te desvendando aos poucos

ancorada no que ja sei de ti

e eu sei que não é tudo a descoberta

puxas o que me interessa

e eu não evito a discussão

falas dos teus sonhos

e eu tento atentar nas lajes tortas do passeio

mas não desprendo o olhar de ti.

os dedos enterlaçados

os polegares afagando-se docemente sobre as luvas.

o outono continua fora do vidro da cafetaria

e entre os cappucinos nas nossas mãos

há algo mais que as palavras e as partilhas,

maior que os sonhos e os momentos

e toca-mo-lo com os nossos olhares

distraidos de tão focados

nos pormenores infimos das faces um do outro

e nas palavras proibidas

não proferidas

para amadurecerem dentro de nós

até ao momento da luz certa

até à hora em que não mais se contêm nos lábios.

mas adivinham-se nos gestos pequenos

sinais disfarçados mas não escondidos

que o frente a frente nos vai mostrando.

um prato estala na cozinha

e percebo o voô de dois passaros que se encontram

e rodopiam para fugir a seguir

quando me apercebo a um canto do café

que estou só eu e o meu sonho

que a cadeira vazia em frente a mim se adivinha uma condenação.

na vidraça enorme o cinza lá fora

dita o rigor do inverno bem cerrado

nos vultos que passam

nem sequer me deixo ficar triste

os sonhos foram feitos para se alcançar,

mas junto as mãos uma à outra

e ao soprar para a concha dos meus dedos

há a marca de um calor que não toquei

mas lá está como as linhas que a minha mãe me deu


Barnabé Santiago 03/02/2006

sábado, março 11

precisava ter sabido
não.
recisava ter confiado
no pedaço de alma
que leu sim no teu sorriso

chegas-me mais que tudo
ainda que a cada passo
precise mais da tua voz
a fazer-me seguro
em cada palavra de ânimo
e cada entoação
do reflexo do orgulho
que tenho em ti

precisava ter tido mais tempo
para saber de cor o aroma do teu olhar.
faz-me falta como a melodia de um sorriso adivinhado

Barnabé Santiago
09/03/2006

quinta-feira, março 9

hoje estou um suspiro... daqueles que não se sabe se é bom ou mau.

segunda-feira, março 6

enquanto os flocos de neve pousam
no meu cabelo despenteado
penso nela.
penso nela a pentear o meu cabelo despenteado
e em cada floco de neve a afirmar
um olhar
a afirmar cada frase dita na distância
de sorrisos que são doces beijos
penso nela e em cada momento do seu cabelo
e cada onda dele que
o privilégio da sorte me deu
a fortuna de presenciar
numa cidade de deambulações
e caras conhecidas de não as conhecer.
e os dedos dela
nos flocos de neve
que caem flutuando e aterram
no tapete irregular do que sou
são felicidades pequeninas em mim
ainda que imaginadas
e parte de uma felicidade grande que
tenho no peito
e me diz a cada momento inconstante como eu
a certeza de um instante unico e de
uma luz acesa no escuro de ser.
e a singularidade de cada toque ficticio
é um abraço e um não poder ter
mais que o não poder ter mais
que tudo o que temos.
e o saber muito que tudo o que temos
basta
basta para as manhãs valerem a pena ainda que frias
e o dia correr devegar
ás vezes em tudo o que odeio
e só o dia a correr devagar
para uma partilha de horas
de olhares trocados sem ver
e de coisas que se têm num
peito que não chega para as alcançar.
e os beijos adiados
sentidos em cada letra
mas adiados numa vontade
sem nome de os apressar
fazem cada dor enorme de tempo adivinhado
ser nada
nada



nada como todas as mascaras sedentas
vistas entre copos e luzes
sorridentes de noites e extravagancias
sem sentido.
porque a mera promessa de
um toque real
apaga todo o impulso de efemero
e todas as luzes que me mentem.
pàra de nevar
e ela ainda está comigo
como letras embebidas
na palma da minha mão
repetidas
até à hora de um haverá
de um haverá neve a cair
e dedos
dedos de carne como o corpo desejado
a tocarem o meu cabelo despenteado
e um olhar dentro do meu
parte do meu
e sorrisos maiores
que qualquer caracter inventado
ou por inventar
ou que quaisquer lábios
possam exprimir sem braços
e dedos entrelaçados.
e tudo isto
que ela é em mim
talvez sem que nem eu saiba
é o sorriso incompreendido pela companhia
enquanto empurro a porta
em busca dos lençois que me trazem
o sonho
em que a posso tocar

( ...sussurro... arrumei a caneta e ela ainda cá está como sempre)



Barnabé Santiago

27/01/2006

quarta-feira, março 1

enrolo um beijo
numa bola de neve
e dou a volta
às palavras que não tenho
para te dizer
em cada discussão ensaiada
a saudade
que tenho dos teus olhos.


Barnabé Santiago 01/03/2006