segunda-feira, março 6

enquanto os flocos de neve pousam
no meu cabelo despenteado
penso nela.
penso nela a pentear o meu cabelo despenteado
e em cada floco de neve a afirmar
um olhar
a afirmar cada frase dita na distância
de sorrisos que são doces beijos
penso nela e em cada momento do seu cabelo
e cada onda dele que
o privilégio da sorte me deu
a fortuna de presenciar
numa cidade de deambulações
e caras conhecidas de não as conhecer.
e os dedos dela
nos flocos de neve
que caem flutuando e aterram
no tapete irregular do que sou
são felicidades pequeninas em mim
ainda que imaginadas
e parte de uma felicidade grande que
tenho no peito
e me diz a cada momento inconstante como eu
a certeza de um instante unico e de
uma luz acesa no escuro de ser.
e a singularidade de cada toque ficticio
é um abraço e um não poder ter
mais que o não poder ter mais
que tudo o que temos.
e o saber muito que tudo o que temos
basta
basta para as manhãs valerem a pena ainda que frias
e o dia correr devegar
ás vezes em tudo o que odeio
e só o dia a correr devagar
para uma partilha de horas
de olhares trocados sem ver
e de coisas que se têm num
peito que não chega para as alcançar.
e os beijos adiados
sentidos em cada letra
mas adiados numa vontade
sem nome de os apressar
fazem cada dor enorme de tempo adivinhado
ser nada
nada



nada como todas as mascaras sedentas
vistas entre copos e luzes
sorridentes de noites e extravagancias
sem sentido.
porque a mera promessa de
um toque real
apaga todo o impulso de efemero
e todas as luzes que me mentem.
pàra de nevar
e ela ainda está comigo
como letras embebidas
na palma da minha mão
repetidas
até à hora de um haverá
de um haverá neve a cair
e dedos
dedos de carne como o corpo desejado
a tocarem o meu cabelo despenteado
e um olhar dentro do meu
parte do meu
e sorrisos maiores
que qualquer caracter inventado
ou por inventar
ou que quaisquer lábios
possam exprimir sem braços
e dedos entrelaçados.
e tudo isto
que ela é em mim
talvez sem que nem eu saiba
é o sorriso incompreendido pela companhia
enquanto empurro a porta
em busca dos lençois que me trazem
o sonho
em que a posso tocar

( ...sussurro... arrumei a caneta e ela ainda cá está como sempre)



Barnabé Santiago

27/01/2006